Mulheres conquistam espaço na Guarda Municipal de São Gonçalo

Servidoras falam sobre desafios e diferencial das mulheres na profissão

A Guarda Municipal de São Gonçalo atualmente conta com 312 servidores em sua força de trabalho. Em uma equipe majoritariamente masculina, as mulheres vêm ganhando destaque na corporação, ocupando atualmente 50 postos de trabalho. No último concurso, realizado em 2011, foram admitidas 15 mulheres no quadro de servidores.

A presença de mulheres na Guarda Municipal de São Gonçalo é recente, tem apenas 28 anos. A primeira turma de guardas femininas aconteceu em 1993. Com personalidade e firmeza, mas sem perder a serenidade, essas mulheres elevam o nome da Guarda através de ações que muitas vezes passam despercebidas para a maioria da população, mas que são de fundamental importância para manter a ordem na cidade.

A guarda municipal Andrea Rosa é uma das pioneiras na corporação gonçalense. Fez a prova para o concurso da guarda e integrou a primeira turma de GMs femininas da cidade. O exemplo para ingressar na Guarda veio de casa. Filha de militar, ela sempre quis se espelhar em seu pai. Passou na prova da PM, mas não seguiu no processo seletivo, por conta do pesado exame psicotécnico.

“Meu pai sempre foi muito meu amigo, meu parceiro. Meu sonho era fazer a mesma coisa que o meu pai. Houve a oportunidade da Guarda Municipal, um trabalho que se assemelhava ao de um policial e pensei: essa é a oportunidade que esperava”, conta.

Andrea já passou por várias funções e diferentes grupamentos em seus quase trinta anos de guarda, como postos fixos, administrativo e trânsito. No Grupamento Especializado de Ronda Escolar (GERE) da Guarda Municipal de São Gonçalo, do qual também é pioneira, ela encontrou seu lugar na corporação. Criado em 1998, o Gere atualmente tem sua força composta majoritariamente de mulheres, com apenas três homens. O papel diferencial das mulheres é destacado pela profissional.

“ A mulher tem um traquejo diferente, observa todo o contexto de uma situação. Na Ronda Escolar tem um olhar diferenciado para as crianças e os adolescentes. A mulher olha com mais empatia, sente mais a dor do outro. No trânsito temos um olhar de entendimento, prevenção, de informação. Um olhar mais humanizado e empático”, conta.

Há três anos, o Gere está baseado de forma estratégica no Colégio Municipal Presidente Castelo Branco, no Boaçu. O grupamento trouxe uma nova realidade para a área, que anteriormente era foco de brigas de facções criminosas, uso de entorpecentes, tráfico de drogas e assaltos no entorno. O Gere também desenvolveu projetos educacionais dedicados às crianças e adolescentes das escolas municipais, criando um vínculo de confiança com os estudantes.

Oriunda da última turma de mulheres a ingressar na Guarda Municipal, em 2011, Natália Santos, antes de prestar concurso para ingressar na corporação, era analista de recursos humanos em um banco, especialista em processos seletivos. Natália também tem formação como técnica de enfermagem e, na época, decidiu prestar concurso para a prefeitura.

“Foi uma grande mudança. Trabalhava em um banco, usava roupas sociais, salto alto e estava acostumada com procedimentos burocráticos, processos seletivos e dinâmicas de grupo. Por curiosidade, vi um anúncio em um jornal sobre concurso para a prefeitura, que contemplava diversas áreas. Fiquei na dúvida entre fazer para técnico de enfermagem ou Guarda Municipal. De última hora, decidi pela Guarda.

Era o primeiro passo para ingressar na corporação. Após o exame teórico, os aprovados são submetidos a um teste físico, de caráter eliminatório, no processo seletivo.

Muitas vezes, durante a rotina nas ruas de São Gonçalo, situações inesperadas acontecem com os guardas municipais. Natália conta que já auxiliou uma mulher que sofreu um aborto espontâneo.

“Eu estava em patrulhamento na ronda escolar quando o motorista de um ônibus me chamou e disse que tinha uma passageira em trabalho de parto. Cheguei para socorrer a menina e nessa hora a formação em técnico de enfermagem me ajudou. Ela sentia muita dor, estava em processo de aborto. A levei para a maternidade do Alcântara. Infelizmente a criança não sobreviveu.

Natália destaca a singularidade com a qual as mulheres conduzem as situações.

“Temos uma forma doce de conduzir as mais diversas situações, e isso nos torna referência em delicadeza, educação. Através do respeito, a mulher se faz valer”, conta.

A Guarda atualmente conta com quatro grupamentos que atuam na cidade: Grupamento de Trânsito, Grupamento de Ronda Ostensiva Municipal (ROMU), Grupamento de Proteção Ambiental (GPAM), Grupamento Especializado de Ronda Escolar (GERE). Todos eles contam com atuação de guardas municipais femininas.

Conhecida por todos na sede da Prefeitura, Maria José Tavares, a Zezé, tornou-se um símbolo da Guarda Municipal na sede do Executivo. Ela mantém a ordem nas dependências da prefeitura, auxilia funcionários e contribuintes com informações e, neste momento de pandemia, também faz com que todos que circulam nas dependências da prefeitura estejam obrigatoriamente utilizando máscara. Postura firme, mas sem perder o carisma.

Zezé entrou na primeira turma feminina da Guarda Municipal e viu na quantidade de vagas oferecidas na época uma boa oportunidade profissional. Em seus 28 anos de corporação, ela conta que já teve grandes desafios na carreira e lembrou-se de um episódio onde foi ameaçada.

” Cheguei a ser ameaçada por um homem armado enquanto eu atuava como guarda de trânsito. A minha postura foi a do diálogo, da mediação de conflito. Devemos responder da forma que o cidadão precisa ouvir, segundo o nosso conhecimento de causa”, conta.

Zezé destaca o contato direto e constante com o público e contou também que o que mais gosta na profissão é de ajudar as pessoas. Ela também falou sobre o diferencial feminino na profissão.

“Não que os homens não tenham, mas o diferencial da mulher é o carisma, a educação, a postura. Tentar fazer o máximo, ser correta. É todo um cuidado especial que a mulher tem”, destaca.

O número de mulheres na corporação, em breve, deve aumentar. Haverá novo concurso para a Guarda Municipal de São Gonçalo, com preenchimento imediato de 40 vagas e 120 em cadastro de reserva. O processo seletivo que seria em maio foi adiado por conta da pandemia do coronavírus.